Hermes C.  Fernandes
“Que soltes as ligaduras da impiedade, que  desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e  despedaces todo jugo...” ISAÍAS 58:6
“Liberdade  não é meramente tirar as correntes de alguém, mas sim viver de uma  forma que respeita e aumenta a liberdade dos outros”.
NELSON MANDELA
Não temos o direito de restringir a  liberdade de quem quer que seja. O mandamento de Deus é claro: “Não  oprimirás o teu próximo, nem o roubarás” (Lv. 19:13). Toda opressão é  roubo, pois é privação da liberdade, um dos mais importantes direitos  humanos.
A presença do Espírito Santo visa  disseminar a genuína liberdade no Mundo, pois “onde está o Espírito  do Senhor, aí há liberdade” (2 Co.3:17). Não apenas liberdade no  sentido de “ir e vir”, mas liberdade no sentido de não viver debaixo de  jugo algum, nem espiritual, nem emocional, nem social.
Toda opressão é contrária à justiça do  Reino de Deus.  Ninguém tem o direito de oprimir seu próximo, ou  explorá-lo, servindo-se de seu trabalho, sem lhe dar paga alguma.
O que mantém as pessoas sob opressão ou escravidão é a falta  de conhecimento. Somente o conhecimento da verdade é capaz de produzir  plena liberdade.  Foi Cristo quem anunciou: "Conhecereis a verdade, a  verdade vos libertará". E Ele mesmo Se identifica como "a verdade".  É por Ele que conhecemos nossa condição espiritual e somos desafiados a  transcendê-la. Devemos, portanto, conhecer, não apenas à Sua pessoa, ou  à Sua doutrina, mas também à Sua obra, e ao Seu modus vivendi.
Sua morte vicária na Cruz foi a carta de alforria assinada com  o Seu próprio sangue. Estamos finalmente livres!  Ninguém mais tem o  direito de dominar-nos a seu bel-prazer. Infelizmente, nem todos têm  acesso a esta poderosa verdade, e por isso, aceitam passivamente a  exploração e a servidão.
Imagine que depois de tanto tempo que a  Lei Áurea foi assinada pela Princesa Isabel, ainda haja gente  trabalhando em regime de escravidão em nosso País. Esta é uma triste  realidade. Pessoas trabalham por comida e estadia. São exploradas,  privadas de sua dignidade, e se não produzirem o exigido por seus  senhores, são submetidas aos mais severos castigos. O fato é que tais  “senhores” se aproveitam da ignorância de seus “criados”, para mantê-los  sob seu ferrenho domínio.
A morte de Cristo atribui dignidade a todo  ser humano independente de raça, cor, religião ou sexo. “Cristo nos  libertou para que sejamos de fato livres” (Gl.5:1a). Não podemos nos  colocar “debaixo de jugo de escravidão”. 
Essa liberdade deve ser partilhada com  nosso semelhante. E isso fazemos quando proclamamos “liberdade aos  cativos” (Is.61:1b), e trabalhamos para que toda estrutura injusta  de domínio seja denunciada e desbaratada. 
Paulo nos informa que o fim desta Era virá quando Cristo “tiver  entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver destruído todo  domínio, e toda autoridade e todo poder. Pois convém que ele reine até  que haja posto a todos os inimigos debaixo dos seus pés” (1 Co.  15:24-25). E será através da ação profética/social da igreja, que tais  estruturas serão destruídas.
Isso nos coloca numa posição  marginal/subversiva neste mundo. Estamos no ramo de demolição de  estruturas de poder. Não as demolimos com armas carnais, e sim  espirituais e poderosas em Deus (Confira 2 Co.10:4). Não precisamos nos  engajar numa luta arma, numa revolução militar, política ou ideológica.  As estruturas de poder ruirão depois que forem fragilizadas pela  infiltração da verdade. Resistência, denúncia, profetismo, ação social e  discipulado são algumas das munições usadas por nossas armas  espirituais.
Não podemos nos aliar aos poderes deste  mundo, ainda que estejamos, por ordem divina, submetidos às autoridades  constituídas. Devemos lealdade unicamente a Cristo e ao Seu Reino.  Quando nos aliamos aos poderes deste mundo, estamos traindo nosso  chamado. Vale aqui a exortação do salmista:
“Até quando  defendereis os injustos, e tomareis partido ao lado dos ímpios? Defendei  a causa do fraco e do órfão; protegei os direitos do pobre e do  oprimido. Livrai o fraco e o necessitado; TIRAI-OS DAS MÃOS DOS ÍMPIOS.  Eles nada sabem, e nada entendem. Andam em trevas”. SALMOS 82:2-5a
Paulo faz coro com esta verdade, ao declarar que “os  poderosos deste mundo” estão destinados a serem aniquilados, pois  nenhum deles conheceu a verdadeira sabedoria, “pois se a tivessem  conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória” (1  Co.2:6,8). Por isso, o salmista diz que “eles nada sabem, e nada  entendem”.  Aliar-se a tais poderes, é o mesmo que aliar-se a algo  destinado a ser completamente aniquilado. Devemos, como povo de Deus,  optar pelos oprimidos, pelos fracos, pelos explorados, pelos excluídos,  pelos pobres, pelas minorias.
Até quando as  igrejas cristãs se manterão aliadas aos poderosos? Até quando aqueles  que alegam representar Cristo na Terra vão continuar se promiscuindo com  os opressores? Não há meio termo. Quem deseja viver e propagar a  justiça do Reino, tem que fazer uma opção pelos oprimidos, e não pelos  opressores. Tal qual Cristo, devemos optar pelos excluídos, os menos  favorecidos, e trabalhar para tirá-los das mãos dos seus algozes.
O sábio rei declarou: “Informa-se o justo da causa dos  pobres; mas o ímpio não quer saber disso” (Pv. 29:7). O ímpio está  sempre “lavando as mãos”, como fez Pilatos. Ele prefere omitir-se, em  vez de tomar posição em favor dos menos favorecidos.
Tanto os profetas, quanto os apóstolos, aliaram-se às camadas  mais necessitadas, em vez de se aliaram aos poderosos. Por isso, eram  considerados subversivos, e foram duramente perseguidos.
Contrário a qualquer tipo de discriminação social, Tiago  escreve: “Se na vossa reunião entrar algum homem com anel de ouro no  dedo, e com trajes de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso, e  atentardes para o que tem os trajes de luxo, e lhe disserdes: Assenta-te  aqui em lugar de honra, e disserdes ao pobre: Fica aí em pé, ou  assenta-te abaixo do estrado dos meus pés, não fazeis distinção entre  vós mesmos, e não vos tornais juízes movidos de maus pensamentos? Ouvi,  meus amados irmãos: Não escolheu Deus aos que são pobres aos olhos do  mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o  amam? Mas vós desonrastes o pobre. Não são os ricos os que vos oprimem e  vos arrastam aos tribunais?” (Tg.2:2-6). Fica claro nessa passagem  que o próprio Deus prioriza o pobre, o oprimido, o necessitado.
Temos a obrigação de livrar o fraco e o necessitado. Alguém  precisa falar-lhe da verdade libertadora do Evangelho. Alguém tem que  contar-lhe da dignidade que Cristo lhe conferiu. “Glorie-se o irmão  de condição humilde na sua alta posição. O rico, porém, glorie-se na sua  insignificância, porque ele passará como a flor da erva”  (Tg.1:9-10).
Uma revolução está a caminho, mas que não  demandará derramamento de sangue, nem violência. Será a revolução do  amor, da paz e da justiça.
“Assim diz o Senhor: Exercei o juízo e a  justiça, e livrai o oprimido das mãos do opressor. Não oprimais mais ao  estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva, e não façais violência, nem  derrameis sangue inocente neste lugar.” JEREMIAS 22:2
Violência gera violência. Não se apaga fogo com fogo. Devemos  transformar nossas armas em arados, e qualquer desejo de vingança em  perdão. A profecia messiânica diz que Cristo “exercerá o seu juízo  entre as nações, e repreenderá a muitos povos. Estes converterão as suas  espadas em arados e as suas lanças em podadeiras. Não levantará espada  nação contra nação, nem aprenderão mais a guerra”(Is.2:4). Eis nossa  esperança!
“Assim diz o Senhor dos Exércitos:  Executai justiça verdadeira; mostrai bondade e misericórdia cada um a  seu irmão. Não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o  pobre, nem intente o mal cada um contra o seu irmão em seu coração”.
ZACARIAS 7:9-10
As  viúvas e os órfãos representam para nossa sociedade as classes  desassistidas, aqueles para os quais a corda rompe primeiro. Nossa  sociedade está cheia de órfãos de pais vivos. Nossas crianças e  adolescentes estão crescendo sem qualquer assistência. Embora o Estatuto  da Criança e do Adolescente represente um avanço considerável,  precisamos de políticas mais eficazes, que promovam uma educação de  qualidade para nossos filhos. O que será de uma geração inteira que  cresceu aos cuidados da babá eletrônica?
E  quanto aos nossos velhos? Até quando morrerão nas filas do INSS?  São  viúvos do Estado. Estão entregues à própria sorte.
O estrangeiro representa o diferente, o  pertencente a outra realidade, outra crença, outra ideologia. É triste  constatar como os imigrantes brasileiros são explorados no Exterior.  Geralmente, trabalham por menos que o salário mínimo do país.
Uma etnia não tem o direito de dominar  pessoas de outra etnia. Não há raças superiores, nem fisica,  intelectual, ou espiritualmente.
Também é triste assistir ao crescimento  dos bolsões de miséria, das favelas e guetos, habitados por aqueles que  deixaram seus rincões, no afã de obterem melhores oportunidades na  cidade grande.
“O estrangeiro não afligirás, nem o  oprimirás, pois estrangeiros fostes na terra do Egito.” ÊXODO 22:21
“Como  o natural entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco.  Amá-lo-eis como a vós mesmos, pois fostes estrangeiros na terra do  Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus.” LEVÍTICO 19:34
“Pois  o Senhor vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o  Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem  aceita suborno. Ele faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro,  dando-lhe alimento e vestes. Amai o estrangeiro, pois fostes  estrangeiros na terra do Egito.” DEUTERONÔMIO 10:17-19
Deus apela à compaixão. Só podemos nos compadecer daquele que  passa por algo pelo qual um dia passamos. Somos um país de imigrantes.  Quem não é imigrante, é, no mínimo, filho, neto ou bisneto de imigrante.   Os únicos que têm suas raízes fincadas nesta terra há mais tempo são  os indígenas. Os demais descendem de europeus, africanos e orientais.  Portanto, antes de agirmos com preconceito, ou explorarmos mão-de-obra  estrangeira, lembremo-nos de nossos ancestrais.
O trato que Deus ordenou que Seu povo  dispensasse ao estrangeiro era de tal ordem, que é usado como referência  para o trato que devemos dispensar a nossos irmãos, quando estes  atravessarem alguma dificuldade econômica:
“Quando teu  irmão empobrecer e as suas forças decaírem, sustentá-lo-ás como a um  estrangeiro ou peregrino, para que viva contigo.” LEVÍTICO 25:35
Quem diria... Em  vez de o estrangeiro ser tratado como irmão, o irmão que deveria ser  tratado como estrangeiro. Porém, hoje, tratar um irmão como se fosse um  estrangeiro, seria considerado um total descaso, dado o desprezo com que  tratamos àqueles que consideramos diferentes de nós.
Se  amamos a liberdade, devemos promovê-la, ainda que isso nos custe a  privação momentânea desta mesma liberdade.